Comunicação e assédio moral 472fx
No ambiente de trabalho, tratar subordinados ou colegas aos gritos, com xingamentos ou expressões discriminatórias pode virar processo na Justiça 4ok41
Novelas e filmes estão recheados de personagens que abusam da comunicação violenta e criam um ambiente de trabalho tóxico. Fácil se lembrar da patroa tirana Tereza Cristina (Cristiane Torloni) que fazia o mordomo Crô (Marcelo Serrado) de capacho na novela Fina Estampa (Globo, 2011).
Quem gosta de super-heróis vai se recordar de como Peter Parker (Homem-Aranha), fotógrafo do Clarim Diário, era constantemente maltratado pelo rude patrão “JJJ”.

No filme ‘O Diabo Veste Prada’ (20th Century Fox, 2006), a protagonista Andy Sachs (Anne Hathaway) conseguiu um emprego numa renomada revista de moda. Por não se enquadrar em determinados ‘padrões de beleza’, a jovem recém-formada em jornalismo era motivo de piada entre os colegas de trabalho. E o pior era o tratamento recebido da sua chefe Miranda Priestly (Meryl Streep) que, além de usar palavras pouco cordiais, também exigia da subordinada tarefas desproporcionais e abusivas.
Na vida real, situações assim se repetem e, muitas vezes, vão parar na justiça. Essa conduta abusiva no ambiente de trabalho, que tem por objetivo humilhar e desqualificar a pessoa tem nome: assédio moral.
O que diz a lei sobre assédio moral? 23l59
A comunicação está diretamente ligada à prática de assédio. O juiz da 1ª Vara do Trabalho de Tangará da Serra (MT), Mauro Vaz Curvo, explica que é muito comum que assediadores, com o intuito de isolar a vítima, evitem ou dificultem a comunicação. Isso ocorre quando a pessoa é interrompida com frequência; quando é isolada do restante do grupo; ou quando a presença da vítima é ignorada e a comunicação só é dirigida aos outros.
Por outro lado, o magistrado explica que alguns assediadores adotam a estratégia de se comunicar com as vítimas de modo violento, por meio de gritos, xingamentos, palavrões, expressões depreciativas, ameaças de demissão ou violência física. E justificativas como “é o temperamento da pessoa…” não amenizam a situação quando a denúncia vai parar na justiça.
A comunicação inadequada no meio ambiente de trabalho, de forma abusiva, intencional e repetida, configura assédio moral e pode trazer danos psicológicos às vítimas.
Um chefe que tenha o costume de gritar com os seus subordinados pode ser acusado de assédio moral, corre o risco de ser demitido por justa causa por mau procedimento, além de responder civilmente pelas ofensas.
O juiz Mauro Vaz Curvo lembra que o assédio moral pode trazer uma série de prejuízos às empresas, tais como: exposição negativa da marca, redução da produtividade dos trabalhadores, rotatividade de empregados, aumento de faltas, erros, afastamentos por doença e acidentes de trabalho, multas istrativas e indenizações trabalhistas.
O magistrado afirma que a comunicação é o principal instrumento que o empregador possui para prevenir o assédio moral e traz alguns exemplos de como isso pode ser feito:
- promover palestras e cursos sobre as diversas formas de assédio;
- instituir um código de ética da empresa, enfatizando que todo tipo de assédio é incompatível com os princípios organizacionais;
- capacitar superiores hierárquicos e funcionários de recursos humanos para detectarem situações de assédio;
- avaliar periodicamente as relações interpessoais no trabalho, por meio de diálogo com os funcionários;
- dar exemplo de comportamento respeitoso e condutas adequadas, evitando se omitir diante de situações de assédio;
- estabelecer canais confiáveis de encaminhamento de denúncias e espaço para escuta ativa das vítimas.
Não há dúvida de que a comunicação, quando é violenta e discriminatória, é uma das raízes do assédio moral. E isso pode causar enormes transtornos para empregados e empregadores.
Mas a comunicação também pode ser o caminho para evitar essa prática. Se colegas, chefes e subordinados se comunicam de forma respeitosa, o ambiente torna-se saudável e todos ganham com isso.